segunda-feira, 20 de junho de 2016




Quase 5 anos depois!

Quem leu meu relato após minha cirurgia, percebeu que na época me desprovi de todos os pudores possíveis que um homem poderia ter para falar do assunto.
Me calei durante estes quase cinco anos para poder hoje, com toda minha experiência, poder passar a quem me lê os resultados de um câncer de próstata na vida de um homem.

Pois bem, em 2012, começou uma transformação em minha vida. O câncer veio não só para me mostrar o quão frágil somos e o quão fútil eu era.
Em um primeiro momento acreditei que esta doença veio em minha vida para me machucar e até me castigar! Mas foi o contrário, hoje, em 2016, minha vida foi mudada radicalmente.

Vou tentar passar para vocês o que aconteceu nestes anos pós prostatectomia radical.

Só para relembrar, me submeti a esta cirurgia com 46 anos, ou seja, com minhas funções hormonais e físicas completamente normais e ativas. Porém, usei do radicalismo porque não queria ter esta doença em mim, e como estava em estágio inicial, preferi extirpar sem dó.

Isto me trouxe sequelas difíceis, que para a grande maioria dos homens, seriam impossíveis de admitir. Mas mesmo assim, comprei esta briga!
No primeiro ano, cheguei a pensar que esta doença veio para me reaproximar de minha ex-esposa, e isto realmente aconteceu! Foi um ano de entrega total ao relacionamento que já durava quase 26 anos e que para mim seria eterno.
A sequela principal foi a física, perdi boa parte da função sexual e com isso veio a sequela mental, ou seja, a auto estima baixa, o desânimo, etc.

Num primeiro momento eu e ela tentamos mesmo superar isto. Tanto fisica quanto mentalmente, o esforço foi enorme em ambos os lados! Mas o tempo foi passando e comecei a perceber que estávamos nos distanciando cada vez mais por causa disto. Ela se enfiou cada vez mais no trabalho e eu me isolando cada vez mais em meu mundo digital!

Dois anos se passaram e reencontrei em uma amiga, o ombro que eu precisava para tirar a cabeça para fora d'água! Esta pessoa estava também em um processo difícil de separação, mas mesmo assim tinha ouvidos para mim. Nos apoiamos mutuamente e em um belo dia percebi que esta pessoa significava mais para mim do que uma simples amiga.

Mas aí começou minha luta interna, como um homem com minhas sequelas poderia amar aquela mulher? Fugi! Fugi muito! Ela sofreu muito com minhas atitudes para que ela se distanciasse de mim.
Eu pensava: Eu não sou homem para esta mulher! Eu serei uma decepção para ela!

E assim meses se passaram até que um dia eu resolvi mostrar a ela como eu tinha razão em tentar distância-la de mim.

Sem entrar em detalhes, resumo o ocorrido com uma simples afirmação: Eu estava completamente enganado!

Ali percebi que minha vida não havia acabado, que eu poderia retomar minha felicidade e que eu ainda era muito novo para desistir!

Ela já havia se separado e com isto entrei em piração! Eu dizia: Se eu não tomar uma atitude, esta mulher não será minha.

Mesmo assim, eu estava casado há quase 28 anos, uma esposa amiga, guerreira e que havia construído uma história comigo. Havia me dado uma filha maravilhosa e me ajudado a ser o homem que sou. Fiquei muito dividido entre um futuro de incertezas e um passado e presente de histórias, dívidas de gratidão com aquela pessoa e certezas de um futuro tranquilo.

Não tive como fugir do que aconteceu, pois, minha vida e meu ser haviam mudado tanto após meu câncer, que os acontecimentos foram inevitáveis. Hoje estou com esta pessoa que me mostrou um mundo diferente, ainda sofro com certas culpas que não são só minhas, mas muito feliz de ter conseguido enxergar que a vida aos 49 anos não acaba, mesmo para quem teve um câncer precoce como foi o meu.
Quero com este relato, dar a alguns homens que passam, passaram ou passarão por esta doença, um fio de esperança.

Falo a vocês para não desistirem de serem felizes. Confesso que não é nada fácil, mas garanto que viver mesmo com sequelas, é muito melhor do que não tentar e morrer! Não só morrer no sentido real da palavra, mas morrer em vida!
Se previna, largue seus pudores, consulte seu urologista e viva!

Simplesmente viva!

domingo, 2 de setembro de 2012

Depoimento do autor do blog


 Eu tive câncer de próstata! 



Em 2008, na época com 42 anos, percebi um aumento em meu PSA  em um exame de rotina que costumo fazer todos os anos.  Tomei um susto quando vi a taxa de 9,85 ng/ml, sendo que o normal seria até no máximo de 2,5 ng/ml.

Refeito do susto inicial, pensei que aquilo com certeza estava errado, pois, eu era muito novo para cogitar a hipótese de eu estar com câncer de próstata. Imediatamente marquei uma consulta com um urologista e fiquei na expectativa e esperança de que na consulta ele falasse o que eu tanto queria ouvir, que aquilo realmente era um engano!

Durante a  consulta, a primeira reação percebida do médico  foi de espanto, pois, com certeza não é comum chegar um homem de 42 anos com um PSA tão alto. Foi então sugerido um tratamento de 21 dias de Ciprofloxacino para detectarmos se aquele aumento não poderia ter sido causado por uma prostatite.

Após tomar os 21 dias do medicamento, voltei  ao consultório médico. Ele me solicitou um novo exame de PSA e esperançoso  realizei o exame. Para minha tristeza, o resultado não foi bom e o meu PSA continuava alto.

O médico realizou um toque e percebeu tudo normal. Sua próxima recomendação foi uma biópsia e neste momento começou meu drama. Explico: eu tinha uma idéia totalmente errada deste procedimento, eu o achava agressivo  e não o fiz.
Cometi neste momento um erro que poderia ter me custado muito caro, mudei de médico!

Para resumir, nos três anos seguintes mudei de médico três vezes, fugindo daquilo que eu achava ser o pior para mim, a biópsia!

Em setembro de 2011 convidei minha esposa para irmos a um motel, um costume que tínhamos sempre para que nossa relação não caísse em rotina. Porém, neste dia ao ejacular senti uma dor tão grande que me fez enxergar que algo estava errado. Eu já percebia uma micção fraca, mas só na dor que acordei para uma possível complicação de meu problema.

Marquei um novo médico imediatamente e no dia da consulta, vendo que eu fugia da biópsia, este médico me exigiu que fizesse o fatídico procedimento. Marquei o exame e fui apreensivo fazê-lo.

Para minha surpresa tanto na hora como no pós-exame não senti nada, foi muito tranquilo e indolor! Pensei comigo: Se acusar o câncer e estiver em estágio avançado, eu serei o único culpado por tudo isso! Seja o que Deus quiser!

Vinte dias após fui buscar o resultado e confesso, foi um dos momentos mais difíceis de minha vida. Mas para minha surpresa o exame foi inconclusivo! Isso mesmo, não conseguiram detectar em 18 lâminas se eu tinha ou não câncer. Foi sugerido então que eu autorizasse o envio a São Paulo para que fosse realizado um procedimento chamado imunohistoquimica, que apura com maiores detalhes as lâminas. Meus amigos, foram mais 20 dias de suspense!

Chegou o dia e muito nervoso fui novamente buscar o exame, e para meu desespero, em duas lâminas detectou-se o câncer.  Fiquei pelo menos uma hora sentado em meu carro absorvendo aquela noticia e pensando o que eu deveria fazer. Resolvi imediatamente procurar meu médico e ao chegar em seu consultório recebi a noticia que ele estava viajando a congresso. Não pensei duas vezes, liguei para seu celular e expus o problema. Fui orientado pelo mesmo a comprar um medicamento chamado Androcur e começar a toma-lo imediatamente, pois a testosterona pode ser o principal causador deste tipo de câncer, com este medicamento meu corpo teria sua produção cessada imediatamente. Obedeci e comecei a tomar o medicamento até que meu médico me atendesse pessoalmente.

Ao ser atendido por ele, fui orientado sobre o nível que meu câncer estava e tive uma ótima noticia, estava em estágio inicial. Pela minha idade e pelo estágio inicial, orientou-me a fazer uma cirurgia chamada Prostatectomia Radical, aonde com uma abertura de 15 centimetros abaixo do umbigo, extrairia totalmente a próstata e resolveria meu problema. Porém, deixou-me a vontade para decidir com calma e estudar possibilidades além da cirurgia, pois, o câncer seria curado, mas poderia ficar incontinente e impotente. A decisão era somente minha!

Sai do consultório e nos dias seguintes procurei outros especialistas. Fui ao radioterapeuta que me mostrou um milagre, a cura sem problemas e sem cirurgia. Mas como diz o ditado, muita esmola santo desconfia!

Fui ao oncologista e este me falou a seguinte frase: “ Não opere, pois, ficará fedendo a mijo o dia inteiro e sua mulher lhe colocará um par de chifres!”, literalmente nessas palavras.

Cheguei em casa e decidi ir a São Paulo buscar outra realidade. Liguei para o Hospital AC Camargo e marquei uma consulta com um médico indicado por um amigo. Amigo este que teve câncer de próstata com 36 anos. Isso mesmo, 36 anos!

Ao entrar no consultório a primeira coisa que falei foi a de que eu estava ali apenas para buscar informações, pois, tinha em mente me tratar em meu estado. O médico olhou meus exames e confirmou que no estágio em que estava e pela minha idade, a cirurgia tinha menos riscos de incontinência e a impotência tinha uma grande probabilidade de reversão em um espaço curto de tempo (1 ano em média).

Quanto a radioterapia, mostrou-me fatos que me convenceram não ser a melhor opção. Ao terminar a consulta, perguntei se eu deveria continuar tomando o Androcur e para meu espanto, em São Paulo já é um procedimento proscrito, pois, já detectaram que este medicamento dificulta a retirada da próstata em caso de cirurgia.

Saí de São Paulo decidido a realizar a cirurgia, porém, devido a esta questão do Androcur, voltei decidido também a mudar de médico. Ao chegar em meu estado liguei para uma cirurgiã amiga para solicitar uma indicação de um urologista e fui prontamente atendido.
No dia seguinte marquei uma consulta e me dirigi ao seu consultório. Na recepção pedi a Deus que me desse um sinal e me mostrasse se aquele urologista era realmente quem resolveria meu problema. Durante a consulta este médico comentou que havia feito cursos com um dos três maiores urologistas do mundo, que é brasileiro e o qual eu já conhecia. Ali estava meu sinal pedido e sai do consultório com a cirurgia marcada.

Minha cirurgia durou três horas e meia, tive um pós-operatório muito tranquilo e hoje, após seis meses não estou incontinente. Estamos trabalhando junto a reversão da impotência e já tenho visto progresso, pois, numa escala de um a dez, estou pelo menos no sete! Sei que para muitos homens isto é o fim, mas pensem, melhor brocha temporariamente do que morto definitivamente!

Resolvi escrever este depoimento para mostrar que com a medicina moderna temos chance de superar doenças que antes eram fatais e que sempre acharemos uma luz no fim do túnel.

Quero também alertar para que não façam o que eu fiz, correr o risco que corri adiando algo que poderia ter me matado. Deus foi muito bom comigo e pretendo jamais não cometer o mesmo erro.

Não pensem que serão menos homem por fazerem o toque, pois, este procedimento é fundamental para a detecção do câncer. O PSA é um indicativo, mas já existem casos de toque positivo com PSA negativo.

A idade também não pode ser subestimada, pois, vocês viram que eu com 42 anos e meu amigo com 36 anos tivemos. Então fiquem em alerta e procurem o quanto antes tomar conhecimento da situação.

Vocês já repararam que as mulheres vivem mais que os homens? Pois é, elas começam seus preventivos bem novas! Nós homens temos que mudar este conceito e fazer de seu urologista seu aliado, procurando-o pelo menos uma vez por ano e o quanto antes.

Espero que com esse depoimento e com esse blog eu possa ajudar a desmitificar um pouco todos esses conceitos que carregamos desde nossa infância.

Obrigado a todos.

Fernando César de Toledo Maia.